Há anos que não tenho tanto prazer em ler algo.
Bom, começar uma crítica literária desta maneira já entrega tudo e pode fazer com que você nem se preocupe em continuar a leitura desta. Entretanto, espero que entender o porquê de algo ser tão fenomenal aguce a sua curiosidade e faça que vá até o final desta análise.
Conheci Justin Cronin há alguns anos quando li seu livro de contos Mary and O’Neil, a convite de um amigo, que não só recomendou como me presenteou com o livro. A obra mostra já a capacidade narrativa de Cronin. Ele consegue converter o cotidiano em algo tão agradável que, sem querer, o autor cria uma renovação e reaproximação com o nosso dia a dia, de maneira a parecer dentro de cada conto lido momentos meigos de auto ajuda. Ele faz com que o que é nada extraordinário se torne ímpar e essencial, tanto que o livro acabou sendo vencedor do PEN/Hemingway em 2002.
Infelizmente e misteriosamente, este livro ainda não foi lançado aqui no Brasil. O que é muito triste, pois recebemos avalanches de obras de qualidade suspeita anualmente.
Enfim, este professor da Rice University deixou claro que a coisa de escrever era a sua habilidade maior quando em 2010 colocou no mercado o primeiro volume de sua trilogia. Sendo a primeira, o alvo de minha crítica.
A passagem chegou ao mercado nacional pela editora Sextante, mas agora está aos cuidados da editora Arqueiro. Tem 815 páginas com tonalidade levemente amarelada o que Ivanir Calado que conseguiu manter de forma primorosa o desenrolar criativo do autor.
ajuda em muito a leitura. A tradução está por conta do competente
Confesso que quando conheci o livro, ainda na versão em inglês, pensei se tratar de mais uma das emulações de Stephen King, com seu livros longos e cheios de “linguiça” que fazem você querer pular algumas páginas. Entretanto este é meu primeiro elogio ao Cronin. Ele não escreve páginas vazias por conta de um livro tijolo. Tudo que coloca tem completa relevância e torna a leitura agradável, já que sabe usar as páginas para fazer belas descrições, permitindo que o leitor praticamente veja cada um dos personagens. Então, se está com medo de achar que trata-se de um outro Guerra dos Tronos, pode ficar tranquilo.
O tema também pode fazer você virar a cara quando o vê nas estantes das livrarias, pois o assunto Vampiros e apocalipse tem em abundância e com diversos escritores. Alguns até podem dizer que o livro lembra a obra The Strain ( Noturno), do Guilhermo Del Touro.
Só que não ....
Gosto de pensar que todo escritor pode trabalhar temas já vistos, no entanto cabe a este mostrar algo novo e que realmente chame a atenção do leitor exatamente para evitar possíveis comparações.
E é exatamente isso que Justin Cronin fez.
Primeiro nos apresentando personagens tão vivos e cativantes que você acaba torcendo para que nenhum morra, principalmente agora que alguns autores estão aderindo ao estilo George R.R Martin e matando sem piedade seus protagonistas. Alguns realmente gostam deste estilo, porém há aqueles que ainda gostam de manter seus heróis, mesmo que estes sofram alguns acidentes de percurso durante a trama.
Na passagem somos apresentados a vários personagens que chamam nossa total atenção, mesmo em pequenos momentos de suas participações, como por exemplo um que faz parte apenas do passado de um personagem relevante ao contexto, mas que Cronin não o diminuiu somente por fazer parte de momentos de flashback. Não... A dedicação dada é a mesma que para elementos que tem participação constante na saga.
Mas então... Do que que se trata esta obra?
Nela conheceremos Amy, uma menina de seis anos que já veio ao mundo de forma surpreendente, e que mesmo cercada de tanta coisa ruim, sempre encontrou elementos que lhe deram amor e cuidados, e por conta disso, recebe uma missão muito especial e também muito pesada:
Salvar toda a humanidade.
Usando da premissa já desgastada de cientistas, que com a mentalidade de que os fins justificam os meios, e em busca da
famosa vida eterna e fim de todas as doenças, criam seres geneticamente alterados que assemelham em muito às criaturas míticas conhecidas como vampiros.
Doze homens condenados à morte por diversos crimes são as cobaias escolhidas para tal experiência, e como é de se esperar, eles fogem e criam dentro de suas “naturezas escuras” uma nova era de morte e escuridão em todo o planeta.
Neste momento você pode imaginar que já viu isso em algum lugar, no entanto o bacana do livro são as passagens de tempo já que fica percebido que tudo começa em 2015, mas temos referências de mil anos no futuro em um mundo totalmente invadido por estas criaturas que contaminam com o “vírus vampiro” uma grande parte da população.
Este cenário, que se assemelha aos livros, séries e filmes de zumbis, ganha seu diferencial com o texto tranquilo e agradável de Cronin, que consegue mostrar um talento ímpar, tanto em cenas simples
(como situações rotineiras), quanto te leva ao desespero quando narra cenas de aventura e ação.
Os personagens principais da saga vão ser apresentados perto do meio do livro em um salto no tempo de 100 anos onde conheceremos Peter, seu irmão Theo, Sara, Michael e Alicia e os demais cidadãos de uma fortaleza. Esta sendo, talvez, a última comunidade humana da Terra. Eles se mantêm vivos porque conseguiram preservar durante às noites luzes que afastam os seres que chamam de Fumaças. A trama começa realmente quando as baterias que os mantiveram vivos todos estes anos começam a falhar justamente quando recebem uma pessoa que definem como andarilha, a qual, indo contra todas as possibilidades, chega aos portões desta comunidade. Uma menina pálida, magra e bonita chamada Amy.
Então. Ficou curioso?
O livro é o primeiro de uma trilogia, sendo que todos já estão disponíveis para venda ao preço médio de trinta e cinco reais.
Um boa notícia é que a Fox adquiriu os direitos para o cinema desta obra e terá a direção de Matt Reeves, que fez um excelente trabalho com a adaptação do livro Deixe-me Entrar.
Minha nota não poderia ser menor que um 9 e já posso adiantar que a saga só ganha potência em sua continuação Os Doze.
Boa leitura.
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